Papo reto, carioca.

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“Malandro é malandro e mané é mané”, dirá eternamente o samba de Bezerra da Silva. Por agora, entretanto, para a cidade do Rio de Janeiro, que neste domingo escolhe o seu novo prefeito, o verso de Silva deve ser parafraseado caso o carioca queira seguir cantando a sua malandragem. Para tanto, a música que deve fazer reverberar nas urnas é a seguinte: Malandro que é malandro vota em Freixo e mané que é mané vota em Crivella.

Fala sério! Que malandro iria preferir ser governado por um pastor evangélico homofóbico, racista, classista, fantoche da pior direita fundamentalista, em vez de confiar os próximos quatro anos de sua cidade a um professor de história, laico, democrático, libertário, inclusivo e representante autêntico de uma das melhores esquerdas que temos no momento? Malandro que escolhe o primeiro, desculpe-me, é mané, ainda que tenha sido doutrinado do contrário.

Mané é aquele que não percebe que o Crivella, ao dizer: “Quero mudar radicalmente a saúde e a educação dos cariocas”, e ao mesmo tempo ser apólogo ferrenho da PEC 241, trata, não só os seus fiéis, mas o povo como um todo, como ignorantes que não irão enxergar que ele, primeiramente, quer encher os bolsos de sua Igreja, e, segundamente, engordar os cofres dos banqueiros e empresários. Se o pastor vai mudar radicalmente a saúde e a educação dos cariocas, o fará, no entanto, para pior.

A cidade boêmia e alegre que só ela, lar e destino turístico de gays e lésbicas de todos os cantos do mundo, terra de todas as cores, religiões e classes sociais, não pode de forma alguma ter como prefeito um sujeito que discursa descaradamente que homossexualidade é pecado e/ou doença; que pelo fato de as mulheres terem sido “feitas da costela de Adão devem obedecer mais aos homens”; que o catolicismo é uma religião de idólatras hereges; e que, num jantar religioso/político em um apartamento chique na Vieira Souto, diz que “o povo lá de trás” – os suburbanos e pobres- tem que entender a priorização da já rica Zona Sul, “afinal, é a vitrine do Rio!”

Mané que é mané escolhe os seus representantes políticos de acordo com a ordem do pastor mais próximo, sem levar em consideração que há séculos a coisa mais racional é separar completamente política e religião. Malandro que é malandro, ao contrário, independentemente de sua fé – ou da falta dela -, não se esquece de que a política existe para de resolver problemas mundanos concretos, como saúde, educação, segurança, e que melhor realiza essas tarefas quanto mais distante estiver de questões espirituais abstratas.

O Brasil é um Estado laico, diz a Constituição, e, por consequência, a cidade do Rio de Janeiro. Malandro não só respeita essa determinação, como também está em sua essência querer que isso seja respeitado por todos. Já o mané, em contrapartida, rasga a letra da lei do país ao votar em um candidato que profetiza que “ainda teremos um presidente da República evangélico que finalmente faça por nossa Igreja”, como disse Crivella em um de seus cultos/comícios.

Votar no pastor que defende a PEC do fim do mundo, o Escola sem Partido, o fim das discussões sobre gênero, é transformar a pretensa Cidade Maravilhosa em uma cidade medieval em pleno século XXI. Votar em Freixo, em contrapartida, que defende justamente o oposto do pastor, é fazer o Rio de Janeiro ser, não maravilhoso, coisa que um mínimo realismo mostra que demorará muito ainda, mas ao menos um pouco melhor do que já é. Só assim será possível esta cidade, um dia, ser maravilhosa. Por isso, malandro, nesse domingo é Freixo 50!

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